quinta-feira, 14 de julho de 2011

Sobre os currais e as tropas


Apartando en el corral, de Prilidiano Pueyrredón
   


  










"Tropeiros contam histórias
mais velhas que o alambrado
sobre as antigas mangueiras
onde à noite descansavam
São feitas de terra ou pedra
de Madeira ou planta viva
Ali eram os paradouros
da tropilha que se vinha

Das missões até pelotas
vinham vacas e cavalos
e as mulas iam pra Minas
por Curitiba e São Paulo
Quando acabou a charqueada
veio o ar refrigerado
mas isso não terminou
com estes velhos cercados

E então chegou trem
cruzando por estes pagos
que a todo vapor vem
atropelando  o passado
A máquina fez da tropeada
um ofício defasado
e o antigo tropeiro
ficou então desempregado

As mangueiras imponentes
que marcavam as coxilhas
foram sendo pouco usadas
e a cada dia menos vistas
O tempo seguiu seu rumo,
e elas foram esquecidas
infelizmente o abandono
hoje é a sua sina

Poucos sabem quem as fez
Escravos ou jesuítas
Espanhóis ou portugueses
Índios ou contrabandistas
que comerciavam o couro
antes mesmo da chegada
dos colonizadores           
donos das primeiras casas

mas os velhos ainda contam
que estes currais surgiram
bem antes do casarão
e dos povoados que cresciam
viram a história do Rio Grande
desde o seu nascimento
e ajudaram o tropeiro
a continuar em movimento

Com o que havia disponível,
suas porteiras fechavam
troncos cravados no chão,
com furos onde passavam
quatro varas de madeira,
descascadas, e formavam
o portão que encerrava,
dentro do curral o gado

Como não havia arame,
pro alambrado construir
a engenharia do campo
assim pôde produzir
arquitetura gaudéria,
paradouro pra dormir
feito já há tantos anos,
mas que hoje ainda está ali.

E o gado seguia vindo,
de boa parte do estado
pois as rotas das tropilhas
vinham de todos os lados
Pedras Altas, Hulha Negra,
ou de Pinheiro Machado
de São Gabriel, Santana,
e até de Santiago
Herval, Bagé, Candiota
ou então de Cacequi,
Lavras do Sul, Aceguá,
Canguçu e Piratini
Capão do Leão, Cerrito,
Arroio Grande e Pedro Osório
São Francisco, Alegrete,
de Itaqui ou de Rosário

É o corredor das tropas,
por onde passava o gado
É a estrada dos tropeiros,
aberta a pata de cavalo
Ela cruza o Uruguai,
e vai também à Argentina
e quem sabe até aonde
segue essa velha trilha

De qualquer forma os currais
são patrimônio gaudério
e devem ser respeitados,
não irem pro cemitério
Por isso peço ao amigo,
pecuarista ou lavrador
mantenha estas velhas taipas,
que nos têm tanto valor

À autoridade que nos ouve,
também faço um pedido
salvem esse patrimônio,
antes que seja esquecido
E à criança que um dia,
construirá o nosso futuro
cuide das velhas mangueiras,
elas são bens de nós todos

E estes tesouros da história,
continuarão sempre vivos
não só na nossa cultura,
mas também nos nossos livros
Poderão ser visitados,
para quem os quiser ver
testemunhas do gaúcho,
viram o Rio Grande nascer"

Por: B. Farias (Original 19/05/2010 - 2a versão 14/07/2011)

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